Já é tempo de superar essa baboseira ideológica

Liberalismo econômico faz mal à cultura

OPINIÃO

Identifiquei-me com a frustração e o desânimo do PH Santos, no vídeo que segue, ao falar sobre o quanto muitos brasileiros ainda não compreendem o papel da produção cultural na manutenção da identidade nacional. Antes, um acréscimo meu: é liberalismo econônimo o nome desse senso comum bizarro.

Essa coisificação da produção cultural é reducionista porque propõe tratar como mero produto a expressão da identidade de um povo. E é apenas por isso que o falido "raciocínio" liberal floresce, baseado em premissas erradas e conclusões simplesmente burras:

Premissa: produções culturais (filmes, livros, peças...) são apenas produtos em seu mercado.
Conclusão: Se apenas um pequeno número de pessoas está disposta a pagar para consumi-las, gerando lucro, então não são economicamente viáveis.

Premissa: uma produção cultural qualquer é economicamente inviável.
Conclusão: esta produção não deve ser realizada, pois não há demanda suficiente no mercado.

O que a doutrinação (esta sim, uma doutrinação) liberal impede de perceber é exatamente o centro da refleção que o PH Santos faz em seu vídeo: a produção cultural justifica-se pela necessidade de expressão de um povo e sua apropriação enquanto civilização particular do espaço histórico que ocupa.

Certo, mas na PRÁTICA, o que isso significa?

Na prática, significa que um filme nacional, não importando (mesmo) se você gosta ou aprova o filme em questão sob qualquer aspecto, existe não apenas por uma lógica de mercado, mas enquanto produção cultural de artistas brasileiros. Daí o legítimo papel do Estado em promover um ambiente onde esse filme consiga, nos cinemas, fazer frente ao capital de marketing, produção, pós-produção e distribuição de estrangeiros.

E como o Estado faz isso? Com cotas para filmes nacionais, leis de icentivo, etc.

O mesmo se aplica à literatura, ao teatro, à dança, à música popular. Portanto, é apenas burrice o "argumento" liberal sobre ser "o nosso dinheiro pagando por isso" ou, pior, a produção cultural brasileira ter que concorrer no "livre mercado" das vitrines culturais. Ou o orçamento do excelente "Marte Um", filmado em Belo Horizonte, é o mesmo da cinebiografia Elvis, de Trem Bala, com Brad Pitt, ou de A Fera, com o Idris Elba, todos concorrentes de Marte Um em 2023?

Já é tempo de superar toda essa baboseira ideológica e discutir o mundo tal qual ele é.