Realismo Capitalista

Uma crônica para evitar o fim do mundo

CRÔNICAS

Todos sabemos onde isso vai dar, é claro e evidente, contudo, há entre nós aqueles dispostos a fazer algo a respeito, mas o quê? "Plantemos árvores", diz uma jovenzinha. Então, pois bem, plantemos sim e em poucos anos a temperatura média da cidade volta a baixar. Mas e então? As árvores não poderão fazer frente ao monte de poluentes jogados na atmosfera, não depois de outros cinquenta ou sessenta anos sem mudanças radicais, revolucionárias, não mesmo, vamos, lidem com isso, lidem! "Pra quê atear gasolina na palha", me diz o influenciador digital com uma mão erguida, "deixemos de consumir tanta água e passemos a andar de bicicleta!" Ora, que ótimo, será bom diminuir a duração do banho e pedalar por aí, mas o planeta, veja bem, sentirá diferença tão substancial quanto sentiria um doente terminal em quem nos ferimentos colocam-se ban-aids, percebe? Então questionam-me virulentamente: "Faremos o quê, então, senhor provocador? O quê? Nada? Morreremos?" Ora, ajustem suas lentes: matemos o que em grande parte adoece o mundo! "E o que é?", pergunta-me o policial, punhos cerrados e olhos em chamas, "diga e eu mesmo farei!" As indústrias sumariamente voltadas ao lucro, não o Chevette 1999, lembrança de seu pai; a pecuária extensiva, com o maior gasto hídrico da história, não o banho que você toma no fim do dia; a produção ilimitada com vistas ao lucro; o Capitalismo, afinal, meus amigos e não tão amigos assim! É ele quem torna o planeta um corpinho a ser usado para, quando velho, ser trocado por... por... pelo quê? "Elon Musk!", um adolescente de cinquenta e poucos anos diz como quem grita Eureka, "ele vai nos levar para Marte, você não soube?