Quero escrever um livro sobre a estrada
2/7/2024
Quero escrever um livro sobre a estrada.
Primeiro: oi.
Tudo bem?
Eu dizia que quero escrever um livro sobre a estrada. Li On The Road há muito tempo, mas o barulho da pedra atingindo o fundo do poço ainda ecoa.
É o que acontece quando leio um grande livro: sinto como se uma pedra houvesse atingido o fundo de um poço e aí o ruído que vem depois prolonga-se como que para me lembrar do eco que os grandes livros têm.
On The Road, sabe? A obra-prima do Jack Kerouac. A história de um sujeito à procura de sentido para a vida que coloca o pé na estrada. Um livro sobre os Estados Unidos. Sobre sexo e drogas. Sobre caronas, caronas pra caramba. E sobre amizades também.
Mas não quero escrever On the Road. Ele já foi escrito, naturalmente.
Eu tenho uma ideia para o livro que quero escrever. Na verdade, como sempre, eu tenho bem mais que uma ideia.
Precisa ser um livro brasileiro, pra começar. Para além do fato de ser escrito por um brasileiro, é claro. Um livro brasileiro nesse sentido: em suas páginas, as pessoas veem o Brasil.
Só que são muitos os Brasis. É ou não é? Muitos.
O que faz sentido, se estamos falando de um livro sobre estradas. Digo: as estradas são essas coisas que ligam lugares que não são o mesmo lugar, mas, sim, lugares diferentes. Deu pra entender?
Então, os Brasis, todos eles, conectados por longos tapetes de asfalto (e, às vezes, terra vermelha), vêm a calhar como cenário para a jornada de um anti-herói.
Ele, que mesmo ao fim da viagem não terá conhecido Brasil algum, porque é apenas ficando que se conhece as coisas, mas um viajante é sempre aquele que já não pode ficar.
Quero escrever um livro sobre a estrada. Mas não será amanhã.